O fim do Processo
Começaram de novo as repugnantes cortesias; um dava, por cima de K., a faca ao outro, que a restituía do mesmo modo. Agora K. sabia exactamente que o seu dever teria sido agarrar a faca quando ela passasse por cima de si e espetá-la no próprio corpo. Mas não o fez; em vez disso, voltou o pescoço ainda livre e olhou em redor. Não podia satisfazer inteiramente , pois não era capaz de aliviar as autoridades de todo o trabalho; a responsabilidade deste último erro tinha-a aquele que o privara do resto das forças que para isso lhe eram necessárias. [...] Havia ainda objecções por levantar? Havia-as com certeza. A lógica é na verdade inabalável, mas não resiste a um homem que quer viver. Onde estava o juiz que ele nunca tinha visto? Onde estava o alto tribunal que ele nunca tinha alcançado? Levantou as mãos e estendeu os dedos.
Mas um dos homens pôs-lhe as mãos no pescoço, enquanto o outro lhe espetava profundamente a faca no coração e aí a rodava duas vezes. Moribundo, K. viu ainda os dois homens muito perto do seu rosto, com as faces quase coladas, a observarem o desfecho.
- Como um cão! - disse. Era como se a vergonha devesse sobreviver-lhe.
Franz Kafka, 1925
Mas um dos homens pôs-lhe as mãos no pescoço, enquanto o outro lhe espetava profundamente a faca no coração e aí a rodava duas vezes. Moribundo, K. viu ainda os dois homens muito perto do seu rosto, com as faces quase coladas, a observarem o desfecho.
- Como um cão! - disse. Era como se a vergonha devesse sobreviver-lhe.
Franz Kafka, 1925
2 Comments:
O Processo!!! Fantástico! Identifiquei logo. Um livro do qual a sensação com que se fica é a de que a própria existência humana é condenada. Beautiful!
É mesmo, o final é uma condenação absoluta. Surpreendeu-me, e por isso é que acabou aqui...u
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