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20060214

A paridade de género na sociedade ocidental e a alteração do papel das mulheres no mundo islâmico

A questão da ‘paridade entre homens e mulheres’ nas sociedades ocidentais contemporâneas já não pode ser reduzida à questão da ‘afirmação das mulheres no espaço público’. No contexto actual o objectivo da consolidação de uma real paridade de género passa sim necessariamente pela afirmação do homem no espaço privado da casa e da família e por uma partilha da acumulação de papéis - que agora se verifica no feminino no triângulo da missão impossível casa- família/ beleza- virtude/ carreira- competência profissional.

Na actualidade a questão da paridade, que se reflecte nomeadamente no acesso feminino a cargos de liderança, está directamente relacionada com afirmação do homem no seu papel doméstico. Infelizmente aqui o legislativo não consagra ainda essa paridade em muitos países, confrontando-nos com uma discriminação que não é apenas cultural.Falta-nos, tal como a muitos outros países no Ocidente, uma legislação que siga o exemplo escandinavo e não desvalorize a paternidade em favor da maternidade, colocando nos ombros da mulher o ónus social e a penalização profissional inerente às responsabilidades acrescidas relativas aos filhos do casal, principalmente nos primeiros anos de vida. Esta é claramente uma das razões pelas quais os casais têm cada vez menos filhos e cada vez mais tarde - uma ameaça à paridade e ao pilar da família que na nossa sociedade parece atacada em todas as frentes.

É de sublinhar que é evidentemente de paridade e não de igualdade que se trata - não são desvalorizáveis as especificidades femininas (como a maternidade), nem as masculinas (como o direito à consagração na lei de um papel familiar activo e responsável no masculino, concretizado nomeadamente num período de licença para apoio aos descendentes) - até porque as diferenças são capitalizáveis não só por ambas as partes como pela sociedade em geral.

Num cenário internacional onde o funamentalismo islâmico parece ganhar senão força certamente relevância, questiona-se o potencial da mulher nas próprias sociedades islâmicas como agentes de mudança. De facto, a educação das mulheres nos países muçulmanos poderia ser o pé na porta para uma alteração não só da sua própria situação actual como da de toda a sociedade em que estão inseridas.

Existe no entanto uma grande variedade de situações no mundo muçulmano e parece-me difícil que uma receita possa ser aplicável a todo ele. Nos casos em que nos deparamos com o binómio pobreza-ignorância, a violência é muitas vezes endémica tanto na sociedade como no seio da família e aí as questões que se deveriam começar por colocar seriam as da melhoria da qualidade de vida no sentido da satisfação de necessidades básicas - premissa na ausência da qual muitos assuntos não podem sequer começar a ser tratados.

Apesar do acima exposto, será naive pensar que as mulheres terão um papel activo numa mudança civilizacional radical e rápida, até porque estas assumem muitas vezes um papel conciliatório de evolução na continuidade e da passagem das tradições para as gerações mais novas. Acresce o facto de as muçulmanas em particular ressentirem o que é percepcionado como a objectificação ocidental da mulher (que até no ocidente originou - e por vezes ainda alimenta - a discussão que resulta do confronto entre as questões da afirmação sexual e da objectificação). Assim, verificar-se-ão seguramente resistências a evoluções direcionadas para uma ocidentalização do papel da mulher na sociedade islâmica.

É lenta a evolução das mentalidades em sociedades e tal deverá ser tido em conta no desenvolvimento de uma estratégia paralela aos apoios (discretos se diplomáticos) no sentido da educação e emancipação das mulheres nas sociedades islâmicas. Teremos, tal como nos mostram episódios tão recentes como o das caricaturas dinamarquesas, de nos habituar à ideia de lidar com o contexto concreto que temos no presente enquanto este não se altera e enquanto aguardamos a confirmação do carácter imparável da evolução das sociedades...

[Em resposta a este post no BLUE LOUNGE]

4 Comments:

Blogger RAF said...

Concordo com quase tudo o que escreves, menos com a crença que a via legislativa pode ter aqui um papel tão importante na responsabilização dos pais.

É verdade que no espaço privado as mulheres arcam ainda com o ónus social de cuidar dos filhos e da casa, o que dificulta - e muito - a sua afirmação. Mas não estou assim tão confiante que esse estigma de dilua pela força da lei.

7:35 pm  
Blogger Catia said...

Não fiquei com a ideia, ao ler, de que a via legislativa era a solução, mas sem dúvida que se tem de começar por algum lado e se for uma medida governamental, vai atingir mais gente ao mesmo tempo.

Sim, na nossa sociedade a maior parte das obrigações continuam a cair para o lado feminino, enquanto que aos homens não lhes é exigido metade, mas ao mesmo tempo, também não lhes é oferecido os mesmos direitos.

Acho que com o tempo as situações têm tendência para mudar e geralmente no sentido de uma sociedade mais aberta em que comportamentos "estranhos" como ser o pai a cuidar dos filhos enquanto a mãe trabalha, deixarão de ser vistos como tal.

9:06 pm  
Blogger LCR said...

então ainda há gente que acredita que se mudam mentalidades por decreto legislativo - maravilhoso.

1:05 am  
Blogger Carpinteiro said...

Caros RAF, Mia e Luís,

Obrigada pelos vossos comentários.
Não se falou em mudar mentalidades. Muito menos em mudar mentalidades por decreto. A sociedade evolui ao seu próprio ritmo, marcado por todos nós.

Falou-se sim em consagrar direitos pela via legislativa, o que é uma coisa bem diferente.

O direito a usufruir da própria família (e também a contribuir para uma diminuição do problema demográfico da Europa, do qual Portugal não está isento e em cujo contexto tardam políticas natalistas) é um que, isso sim, muito boa gente acharia de facto maravilhoso. A consagração de direitos de paternidade cai nesta categoria.

1:30 am  

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